Leandro de Oliveira Basil
Resumo: Analisamos o artigo dos autores portugueses Carlos Manique da Silva e Cláudia Pinto Ribeiro sobre a apropriação do espaço escolar pelo projeto pedagógico, na Escola da Ponte, em Portugal. O artigo analisou através de uma pesquisa virtual com os educadores que trabalharam na escola entre os anos de 1970 e 2012 como eles utilizaram o espaço da escola, na perspectiva de uma escola de espaço livre, mediado por um projeto pedagógico inovador.
Palavras-chave: espaço escolar; pedagogia; escola da ponte.
INTRODUÇÃO
Primeiramente, antes de tratarmos sobre o estudo, cabe uma contextualização sobre a história da Escola da Ponte e sua proposta inovadora. Posteriormente, podemos nos aprofundar no conteúdo do artigo.
A Escola da Ponte está localizada em Vila das Aves e São Tomé de Negrelos, em Santo Tirso, no distrito do Porto, em Portugal. Ela proporciona aprendizagens a estudantes do 1º e 2º ciclo do ensino fundamental. Tem uma proposta democrática e inclusiva, que foi implementada a partir de 1976, liderada pelo educador José Pacheco. É reconhecida mundialmente pela sua abordagem pedagógica integral, que visa desenvolver um processo inovador de ensino, baseado na autonomia dos estudantes através de um sistema de aprendizagens por ciclos e projetos.

A Escola foi considerada sendo de área aberta, não apenas no sentido espacial mas também pedagógico. Tendo como base o conceito Place Topology, o objetivo do estudo é entender como os espaços são usados pelos professores e o conceito de espaço enquanto construção social.
METODOLOGIA
Foram enviadas perguntas aos educadores que trabalharam na escola entre os anos 1970 e 2012. Esse arco cronológico se justificou por ser o lapso de tempo entre o inicio do projeto pedagógico e a transferência para um novo edifício.
Foram feitas perguntas relativas a utilização dos espaços, idade e a formação dos professores, se ocorriam mudanças na organização do espaço escolar e porque ocorriam, entre outras.
Foi criado um formulário online (Google Forms) com 17 perguntas, na maioria com resposta fechada e 7 de respostas abertas. O inquérito foi orientado de acordo com a seguinte categorização: 1- Dados biográficos, 2- Dados do contexto, 3- Tipologia do espaço e 4- Topologias de lugar e de ensino.
A principal ruptura da Escola da Ponte foi o fim da organização em turmas. O objetivo era lidar com a heterogeneidade da população escolar. A inovação se baseou em uma ação e reflexão coletiva e não unicamente sobre a tutela dos professores.
Além disso, propôs um envolvimento da comunidade (designados encarregados da educação) com uma afirmação de uma cidadania participativa e democrática, com inclusão e equidade. A Escola, segundo José Pacheco (2015) passou por uma valorização dos modos como se aprende e do contexto onde se aprende.

Pela falta de turmas/séries, foi um caminho natural se tornar uma escola de espaço aberto. Os alunos passaram a se organizar em grupos de acordo com os projetos e com as áreas de saber que exploram. E passaram a fazer provas quando querem testar o que aprenderam.
O processo de aprendizagem se dá em diversos espaços flexíveis, através de uma lógica de apropriação e de pesquisa, a aprendizagem pela descoberta (NÓVOA, 2017). Onde cada aluno passa por um processo individual de aquisição de experiencias e de conhecimento.
O currículo também sofre alterações, pois dialoga com o contexto local, os saberes da comunidade e dos alunos. Com isso, apesar da autonomia, o aluno se sente pertencente a um grupo, através dos projetos, círculos de estudos, aprendizagem em pares, e do apoio pedagógico dos orientadores.
Segundo Rui (CANÁRIO, 2004) a experiência da Escola da Ponte só foi possível por conta do profissionalismo da equipe docente, que acolhe a autonomia individual de forma participativa.
Outros mecanismos são também importantes: organização em núcleos (iniciação – consolidação – aprofundamento), registros de avaliação, plano de quinzena, a grelha dos objetivos, registro dos projetos, tutoria (já sei e preciso prender), lista de problemas da vila e da escola, o mapa das responsabilidades, as assembleias de alunos.
CONCLUSÃO
Sobre os resultados da pesquisa: viu-se que os espaços eram alterados de acordo com a conveniência dos alunos e dos projetos. Muitas vezes os projetos utilizavam mais espaços externos a escola. Nenhuma organização era rígida mas sistêmica e dinâmica, seguindo a necessidade de cada momento.
Alguns professores tinham preferência por alguns espaços mas os alunos circulavam com mais frequência pela maioria deles, de acordo com a necessidade. Destacaram também que houve pouca resistência de alunos e professores a trabalhos em área aberta, destacando que isso era um grande beneficio para o trabalho coletivo.
Para os professores ficou claro que o espaço aberto era importante para o trabalho em equipe mas que ele se tornava importante a partir dos processos desenvolvidos pelos professores e alunos, e não o oposto.
Para os pesquisadores, o sucesso da proposta se funda no caracter inovador do Projeto Pedagógico, que é de 1970 e, portanto, anterior a mudança para o edifício de área aberta, que ocorreu em 1984. Ou seja, foram especialmente os professores que mantiveram e deram vida aos espaços em área aberta (MARTINHO, 2011). Ou como diz Pacheco: escolas não são edifícios.
REFERÊNCIAS
- SILVA, Carlos M. da; RIBEIRO, Cláudia P.; 2018. A apropriação do espaço escolar pelo projeto pedagógico: o caso da escola da ponte (Portugal). Educação e Pesquisa, 44, e183443. https://doi.org/10.1590/S1678-4634201844183443
- CANÁRIO, Rui. O que é a Escola? Um “olhar” sociológico. Porto: Porto Editora, 2005.
- CANÁRIO, Rui. Uma inovação apesar das reformas. In: CANÁRIO, Rui et al. (Org.). Escola da Ponte: defender a escola pública. Porto: Profedições, 2004. p. 31-41.
- MARTINHO, Miguel Henriques. «P3» – Uma outra concepção de escola: estudo de caso. 2011. Tese (Doutorado em Ciências da Educação) – Departamento de Educação da Universidade de Aveiro, Aveiro, 2011.
- NÓVOA, António. Prefácio. In: MORAIS, Paulo M. Voltemos à escola: como a Escola da Ponte ensina de forma diferente há 40 anos. Lisboa: Contraponto, 2017. p. 13-17.
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