Há exatos cem anos, em janeiro de 1914, começava a entrar em prática nas fábricas da Ford, nos Estados Unidos, um modelo de produção industrial dinâmico e revolucionário, que mais tarde ficaria conhecido como Fordismo.
Esse modelo, criado por Henry Ford, fundador e então presidente da Ford Motor Company, tinha como principal objetivo acelerar o ritmo de produção dos automóveis em suas fábricas, tornando-os mais acessíveis a população.
O Fordismo criou uma linha de produção dividida por tarefas, onde cada funcionário exercia uma função específica e pontual. Até 1913, eram precisos alguns dias para se montar um carro. Em 1914, com o advento do Fordismo, esse processo passou a ser feito em apenas 98 minutos. Uma nova revolução industrial estava começando.
O ritmo de produção aumentou constantemente nos anos seguintes. Em 1914, foram vendidos 250.000 carros do Modelo T (o primeiro carro produzido pela nova linha de montagem). Em 1916 foram vendidos 472.000 modelos do mesmo carro. A produção quase dobrara em apenas 2 anos. Até 1927, ano em que o Modelo T parou de ser produzido, 15.007.034 de unidades foram vendidas em diversas partes do mundo.
Um dos primeiros desafios ao Fordismo foram a crise de 1929 e a ruptura da bolsa de valores de Nova York. Apesar dos altos salários pagos por Ford aos seus funcionários e da satisfação dos operários com a redução da carga horária de trabalho, nada pôde conter a crise de super-produção industrial que se criava.
Esse foi o primeiro grande obstáculo ao modelo criado por Ford. Como manter o mercado permanentemente aquecido e em crescimento constante? Como fazer com que as pessoas continuassem comprando novos carros todos os anos?
A aposta da indústria foi diversificar a linha de produção criando novos modelos a cada ano, fazendo com que as pessoas trocassem seu antigo carro por novos modelos. Essa prática se tornou comum ao longo dos anos e fez com que a indústria automobilística se aperfeiçoasse e se mantivesse lucrativa.
Porém, em nenhum momento Ford pareceu perceber o dano ambiental que o seu novo modelo de produção industrial criava. Com a revolução Fordista, a produção de resíduos poluentes tomou proporções catastróficas. A política de renovação anual do catálogo de produtos tornou a vida útil das máquinas ainda menor, antecipando o descarte do veículo. Ano após ano, década após década, esse processo se intensificou.
Atualmente, a dinâmica da empresa ainda tem como objetivo a diminuição da longevidade das peças dos veículos, fazendo com que os carros tenham durabilidade ainda menor do que tinham nas décadas de 1950 e 1960. Atualmente, as concessionárias Ford tem seguido a filosofia de que não se deve mais consertar as peças com defeito, mas sim trocá-las. Isso aumenta em muito o descarte de materiais poluentes. Após 100 anos de Fordismo, a indústria ainda não parece ter percebido o desastre ambiental deste modo de produção.
Infelizmente, esse modelo se tornou um padrão na indústria contemporânea; cada vez mais empresas estão voltadas para os lucros da ‘obsolência programada’, cada vez mais produtos estão nascendo com uma vida útil reduzida, prontos para serem substituídos por uma ‘nova linha’ em 6 ou 12 meses.
E enquanto o Fordismo comemora 100 anos de ‘sucesso’, o planeta se torna cada vez mais entupido de lixo plástico e material descartável.
Quantos séculos mais serão precisos para que se perceba a ferocidade desse sistema industrial?
É preciso que a Humanidade consolide um modelo de produção que preze pela reciclagem e durabilidade dos materiais. As empresas precisam entender que são responsáveis pelo descarte daquilo que produzem. É preciso que todos entendam que o mundo não irá suportar e não conseguirá renovar a tempo a produção inesgotável de tanto lixo.
Precisamos criar cada vez mais programas de reciclagem e re-aproveitamento de resíduos, para que seja reduzido o impacto da produção industrial contemporânea. Mais leis devem ser criadas para que as empresas sejam responsáveis pelos materiais que produzem. Enquanto isso não existir, nosso mundo continuará sobrecarregado com a quantidade de lixo que é produzido diariamente nas fábricas.
Ao completar 100 anos, o Fordismo nos dá muitos resultados, positivos e negativos, sobre o tempo que passamos. Devemos refletir, entretanto, se o mundo suportará mais 100 anos desse modelo industrial, obsoleto e destrutivo.
Um bom documentário que ilustra bem o tema em questão e nos leva a pensar um pouco mais a respeito daquilo que entendemos como a ‟normalidade″″: https://www.youtube.com/watch?v=IQ_lizW5zSI
Abraços.
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Este aqui ajuda a compreender um pouco melhor a mentalidade de H. Ford: https://www.youtube.com/watch?v=FaDprRfAYzg
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